Santa velhice..!!!

Caros amigos...

Hoje é o Dia Internacional e Nacional do Idoso. Infelizmente, não encontrei nos jornais nenhuma informação sobre algum evento alusivo à data. Por isso, decidi prestar a minha modesta homenagem aos cerca de 19 milhões de brasileiros que já ultrapassaram os 65 anos de idade, o chamado "bloco daTerceira Idade". Aqui em Pernambuco, segundo o IBGE, 486 mil sobrevivem graças à benevolência do nosso Pai Celestial. A ausência de políticas públicas tem sido a marca do sofrimento dessas criaturas que já fizeram tanto para o desenvolvimento do Estado. Nesta homenagem, cito a minha saudosa "velhinha", doce mãe maravilhosa, dona Virgínia Tenório da Silva, 80 anos, falecida há três anos, num dos momentos mais terríveis de minha vida. É como se ela estivesse aqui do meu lado, mesmo sem enxergar quase nada, querendo saber, com detalhes, o que eu estaria fazendo nesse computador..!

Ah...saudosa lembrança..!!! Marcada pelo sofrimento, dona Virgínia conseguiu atingir seus 80 anos de vida, graças à sua extraordinária força de vontade de viver e de lutar. Matriarca de uma família de sete filhos (um deles já falecido), ela nunca se deixou abater pelas dificuldades, mesmo depois que o meu pai, "seu Antônio", morreu. Era um casal apaixonadíssimo e ela costumava afirmar que "Sem Tonho, num sei viver..!". Por outro lado, o "seu Tonho" retrucava: "Eu é que num dou um passo adiante sem tu, véia..!". Ele faleceu aos 74 anos. Ela, seis anos após. Quando falo em sofrimento, me refiro à luta travada por esses dois velhinhos maravilhosos para criar essa família.

Meu pai era um operário de fábrica de tecidos e como 'bico', ajudante de pedreiro. Dona Virgínia, lavava e passava roupas "de ganho" mas se considerava feliz porque estava trabalhando para educar os filhos. O seu "modus operandi" de criar os rebentos ela herdou de seus pais. Rigorosa, mãe controlava tudo na base da "correia" que ela apelidou de "maria chiquinha". Meu pai, por outro lado, se fazia respeitar com sua cara fechada. Bastava um olhar severo prá gente botar o "rabinho entre as pernas" (expressão usada por dona Virgínia). Nós (os filhos) adorávamos aquele fantástico casal. A barra era pesada, mas a família foi criada.

Dona Virgínia e "seu" Antônio ainda tiveram o carinho e o respeito de própria família que constituíram, mas quantos, hoje em dia, ainda sofrem vítimas do descaso por parte dos próprios filhos e familiares (violência doméstica) além do preconceito e, sobretudo, o desinteresse dos Poderes Públicos para com seus direitos adquiridos ? Diariamente, tomamos conhecimento de agressões sofridas por idosos, tão indefesos quanto uma criança. Não se tem idéia do número dos que morrem nos hospitais públicos por falta de atendimento ou por tratamentos inadequados. Só de pensar, também, no sofrimento daqueles que praticamente "hibernam" nas longas filas da Previdência ou nos bancos para receber os trocadinhos da aposentadoria ou pensão. É muita humilhação..!

Mas, o que devemos fazer para que os nossos pais e avós envelheçam com dignidade ? Eu diria que o "remédio" eficaz é o AMOR. Mas o amor verdadeiro, sem falsidade, regado com generosas doses de carinho. Isso é o que deveria ser feito por todos nós. É só o que eles, os idosos, desejam sem exigir. Como sempre tive um carinho muito grande pelos pais, especialmente minha mãe, (quem me conhece sabe disso) jamais deixei que alguma coisa de ruim pudesse lhes acontecer, mesmo não tendo o tempo que gostaria para poder didicar-lhes toda a atenção que eles mereceram. Mesmo assim, me sinto culpado porque deveria ter feito mais, muito mais por eles. Quem sabe, talvez eles pudessem ainda estar vivos..!

Acabei de ler uma entrevista feita pela repórter Sílvia Bessa, do Diário de Pernambuco, com a professora e escritora Ana amélia Camarano, vice-presidente do Conselho Nacional do Idoso. A repórter perguntou-lhe: "Como a senhora avalia o tratamento dado pelas autoridades e pela sociedade à questão dos cuidados ao idoso e da violência doméstica contra eles no Brasil ?". Em sua resposta, a professora destaca a preocupação de muita gente em querer "vilanizar as famílias", da mesma forma que pede um pouco mais de "ponderação na participação do Estado na resolução desse problema". Ela inclusive questiona: "Por que existem maus-tratos familiar ?" e justifica afirmando que "Muito do abandono e da negligência tem a ver com a falta de tempo de não poder cuidar. Coisas da modernidade", diz a doutora..!! Confesso que fiquei perplexo diante do que está escrito...!

Mas, ela ressalta alegando que "existe uma dificuldade imposta pela legislação porque ela põe a família como única responsável pelo bem-estar do idoso e não cria condições para ajudá-la nos cuidados desse idoso.". A professora tem razão. Todavia, enquanto o Estado não cria esses mecanismos, enquanto os políticos não legislam sobre leis específicas para esse seguimento da sociedade brasileira, a gente não pode deixar os nossos idosos à míngua, concordam ?. É preciso que se faça alguma coisa o mais rápido possível porque a população de pessoas idosas com mais de 65 anos está se evoluindo consideravelmente. É o chamado "boom populacional". O alerta partiu da doutora Taís Corrêa, geógrafa e estudiosa da demografia regional, da UFPE. Ela falou que "O brasileiro reduziu as taxas de fecundidade, de natalidade e de mortalidade. Com melhores condições sociais, aumentou a esperança de vida". É verdade..! E quem não gosta de viver ?

Então, nessa homenagem que presto aos idosos do meu País e do meu Estado, rogo a todos que não esperem de braços cruzados as ações do Estado para atender aos idosos. Façam como dona Virgínia, tenham muito amor prá dar. É só o que eles querem..!! Um pouquinho de atenção, um sorriso de cumplicidade, o respeito merecido, o carinho que afaga e o beijo que adoça. Para quem já não tem os pais nem avós vivos, então pratiquem todas essas maravilhas com idos que encontrar pela frente. Eles se sentirão felizes, sabia ?. Outra forma de se preocupar com os idosos é combater qualquer tipo de violência de que tenha notícia: maus tratos, abandono, negligência, abuso ou exploração financeira. Qualquer denúncia nesse sentido, é só discar GRATUITAMENTE para (0800 281 9455). Faça a sua parte. Lamentavelmente, aqui em Pernambuco só existe uma Delegacia Especializada do Idoso. Funciona no Recife mas a sua estrutura ainda é precária, diz a reportagem do DP sobre os Idosos. Isto é uma vergonha..! Por favor, opinem a respeito.