domingo, 27 de janeiro de 2013


O Brasil é um país de grandes talentos musicais, isso o mundo inteiro já sabe. Entre medalhões consagrados, jovens vozes e veteranos pouco valorizados, ainda tem uma parcela totalmente inédita. Esse era o caso das cantoras pernambucanas Anastácia Rodrigues, Angela Luz, Cláudia Beija e Sonia Sinimbu. Reunidas no CD Quando a canção acabar, com produção do cantor Gonzaga Leal, as quatro estreiam em um álbum coletivo caprichado.
A trajetória de Gonzaga dá a deixa: intérprete ímpar, tem dedo de ouro na hora de escolher seu repertório e capricho em suas produções sempre muito bem conceituadas. Agora ele põe, generosamente, essa experiência a serviço de outras vozes. "As vozes femininas sempre exerceram sobre mim um enorme fascínio, encanto e mistério. Aqui estão elas: Anastácia, Angela, Cláudia e Sonia, que neste álbum mostram suas qualidades, suas faces e suas vontades de chegar", apresenta Gonzaga em texto publicado no encarte.
O produtor soube fazer a liga e buscar repertório e linguagens para juntar quatro vozes, quatro personalidades, quatro interpretações distintas. É a voz de Sonia que abre o disco com Na cabeça, de Marcos Sacramento e Luiz Flávio Alcofra. Ela volta em Vírgula (Juliano Holanda e Publius) e Mergulhando (Fábio Tagliaferri). Claudia Beija aparece em Boa hora (Alessandra Leão e Juliano Holanda), Tô fora(Geraldo Maia e João Falcão) e Amor de parceria (brejeira pérola de Noel Rosa). De voz forte Anastácia Rodrigues é a única a trazer composição própria, Semeação, e também canta com sangue latino Merengue (Robertinho do Recife e Abel Silva) e Tico-tico (Sérgio Cassiano). Angela Luz ficou com Hedionda Musa (Accioly Neto), Outra vez (Marco Polo) e Cantiga de Manoel Leandro (folclore piauiense com adaptação de Gonzaga).
Todas se encontram em Quando a canção acabar, de Luiz Tatit. E aquelas vozes, tão únicas, aqui aparecem harmonizadas. A escolha dessa música para puxar o estandarte do disco é apropriada. Quando o crítico José Ramos Tinhorão anunciou em 2004 o fim da canção, Tatit questionou com essa música, belo conto com as eternas cigarras. Posta ao final do disco, Gonzaga deixa clara sua opinião sobre o assunto e a proposta de abrir novos (e necessários) horizontes.
São quatro ótimas cantoras apresentadas de uma só vez em um disco bom do início ao fim. Com tantos clones, covers e velhos sucessos requentados sem necessidade, ouvir um repertório inteligente em novas vozes é prazer compensador, justifica a riqueza plural de um país. Mais um forte indício de que a música brasileira está acontecendo e se renovando completamente à margem da grande mídia.

Ouça faixa:

Fonte: http://www2.uol.com.br/ziriguidum/1301/130120-01.htm



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